terça-feira, 24 de abril de 2012

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O Grupo cênico-musical Eco do Santa Marta vai se apresentar no Salão Poético da AABB no próximo mês.
Entre músicas e textos encenados, aí vão meus poemas:




 DEMASIADO HUMANO



 na suja poça

sob o fundo do barraco

entre pedras, estacas e detritos

meu olhar se perde



onde não sou

nem tenho para onde



nos degraus sinuosos

de múltiplas fachadas

e reféns expostos



dispenso-me do gelo

como quem sabe

como quem nunca



o calor humano tem um quê de espelunca






TRÂNSITO LIVRE  
                                      para Itamar


haverá chance do porvir sem achincalhes?
retiraremos máscaras e antolhos?

quem desacionará a chave-mestra da engrenagem?
quem comandará o cessar-fogo?

a que sorte, remate ou desfecho
será lançado tal funesto enredo?

no asfalto e no morro – extravagante esteio –
só transitam livremente: risco e medo.





PINGENTE VI

filho  filho  filho  filho  filho  filho  filho  filho  filho
até perder totalmente o sentido filho filho  filho filho
até soar como rouco desvario de hospício  filho  filho
até rasgar as entranhas como lâmina verbal filho filho
até bodear como droga  filho  filho   filho  filho  filho
até desaparecer no infinito tão restrito do meu peito
filho  filho  filho   filho  filho  filho   filho  filho  filho 
até comprometer veias artérias alvéolos articulações           
tolo tolo filho falha folha filho filho  filho  filho filho 
filho  filho  filho  filho   filho  filho  filho  filho  filho 

filhos são pérolas tombadoras de almas
mães são estrupícios de benevolência duvidosa
pais, sejam o que forem, são de definição pretérita
a família, se ainda não foi, por pouco não está proscrita

Deus reclamaria um dia a mais para o aprimoramento?
ou sou eu quem falha na criação de um novo invento?





Noite Comum


o vento sibila
ladainha de medo
cada canto do morro
esconde um segredo

portas que fecham
boca que cala
o tráfico manda
a lei é a bala

a noite é comum
mas só na aparência
o silêncio que canta
não tem inocência

acorda manhã
despe teu lodo
descobre a promessa
por trás desse engodo












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