sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Registro de Encontro na Favela de Santa Marta






Fiquei encantada com o público de jovens que nos prestigiou ontem, dia 30 de outubro de 2015, na Favela de Santa Marta, na confraternização do pessoal do programa "Cidade, Mudanças Climáticas e Ação Jovem".

Quando chegamos o funk e o passinho rolavam (linda a dança e o contágio coletivo daquela arte 
criada em grupo; que beleza a interação dançante expressiva da grande roda). O som altíssimo forrava o contexto.

No intervalo antes do samba, o grupo cênico-musical Eco do Santa Marta entrou em cena como de costume: acústico, "leve", com Poesia & Música & Dizeres.

Impressionantes foram o silêncio acolhedor naquela laje, a atenção, o interesse manifesto, a reverência, o respeito a nosso trabalho e, é claro, ovação e pedidos de bis finais. Bom demais ter um exemplo dessa grandeza.

Fiquei orgulhosa de pertencer ao Grupo Eco e de ser brasileira! A luz já está aí. Não precisamos 
esperar o fim do túnel. O Brasil tem jovens já educados e preparados para construções dignas, jovens que sabem ouvir, aprender, ensinar e compartilhar. 

Estamos juntos, meus caros.

Abrações.
(a comida estava divina, é bom frisar. Muito chic. Parabéns à organização)





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sábado, 9 de janeiro de 2016

A Rainha Ginga



A Rainha Ginga (José Eduardo Agualusa) – ed. Foz


Um padre brasileiro (Francisco José de Santa Cruz), em crise de fé, narra sua história (mais, muito mais, do que a história da tal Rainha Ginga).

Ele, que nascera em Olinda, no Brasil, no século XVI, foi para o reino do Congo, na África, e, por ser instruído em letras, acaba por servir como secretário da senhora dona Ginga, irmã do rei do Dongo. A partir daí a narração ganha corpo e se desenvolve.

Descreve-nos um mundo cruel, de violências e cobiças. Uma época que passou, mas que ainda vive de alguma forma hoje em nós, herdeiros da história, filhos que dão continuidade muitas vezes aos horrores e brutalidades de nossos antepassados.

Nos sertões da África, nos confins do Brasil ou nos porões e convés de embarcações que atravessavam mares, o demo marcou sua presença e o inferno se manifestou de múltiplas formas onde vicejavam a ganância dos homens e o medo.

Me encantei com as descrições de hábitos, costumes, rituais, filosofia e religiosidade de nossos ancestrais.

Também me encantei com as histórias, suas versões de um passado que se projeta definitivo em nossos tempos atuais. 

Instrutivo e cativante é o vocabulário rico a nos abrir olhos, ouvidos e sensibilidades para outros mundos, mundos que estão em nossas vísceras com a força de familiares instintos e pulsões.

"Há mentiras que resgatam e há verdades que escravizam", mas a plasticidade da sabedoria embutida nos costumes e nas artes dos povos sempre nos aproximará de sua essência, sem subterfúgios. 



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Cada Homem é uma Raça (Mia Couto)




Cada Homem é uma Raça (Mia Couto) – ed. Ndjira


Livro de contos.

Absolutamente fabuloso.

Esse moçambicano, biólogo e escritor, professor e jornalista, é um assombro, uma alegria literária.

Sinto-o como um Guimarães Rosa. Usa e abusa da Língua Portuguesa de forma original e cativante.
Conhecer seus escritos é conhecer sobre seu povo e sua cultura, é viajar num tempo que foi, é e será registro de um para sempre.
É literatura que nos arrebata e enleva. É ao mesmo tempo resistência e voz que traz esperança.

Viva Mia Couto!



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