sábado, 9 de janeiro de 2016

A Rainha Ginga



A Rainha Ginga (José Eduardo Agualusa) – ed. Foz


Um padre brasileiro (Francisco José de Santa Cruz), em crise de fé, narra sua história (mais, muito mais, do que a história da tal Rainha Ginga).

Ele, que nascera em Olinda, no Brasil, no século XVI, foi para o reino do Congo, na África, e, por ser instruído em letras, acaba por servir como secretário da senhora dona Ginga, irmã do rei do Dongo. A partir daí a narração ganha corpo e se desenvolve.

Descreve-nos um mundo cruel, de violências e cobiças. Uma época que passou, mas que ainda vive de alguma forma hoje em nós, herdeiros da história, filhos que dão continuidade muitas vezes aos horrores e brutalidades de nossos antepassados.

Nos sertões da África, nos confins do Brasil ou nos porões e convés de embarcações que atravessavam mares, o demo marcou sua presença e o inferno se manifestou de múltiplas formas onde vicejavam a ganância dos homens e o medo.

Me encantei com as descrições de hábitos, costumes, rituais, filosofia e religiosidade de nossos ancestrais.

Também me encantei com as histórias, suas versões de um passado que se projeta definitivo em nossos tempos atuais. 

Instrutivo e cativante é o vocabulário rico a nos abrir olhos, ouvidos e sensibilidades para outros mundos, mundos que estão em nossas vísceras com a força de familiares instintos e pulsões.

"Há mentiras que resgatam e há verdades que escravizam", mas a plasticidade da sabedoria embutida nos costumes e nas artes dos povos sempre nos aproximará de sua essência, sem subterfúgios. 



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