segunda-feira, 8 de julho de 2013

Poemas de Adonis

Selecionei algumas pequenas maravilhas do poeta Adonis. 
Se é o maior poeta árabe vivo, não sei. O que sei é que ele é imprescindível.
Tradução de Michel Sleiman.



Espelho do século XX

Caixão revestido com rosto de menino
livro escrito nas entranhas de um corvo
fera que avança levando uma flor
rocha que respira nos pulmões de um louco
assim é
o século XX



Espelho das nuvens

Asas
são, mas de cera
e a chuva a torrente não
é chuva – são barcos levando lágrimas.



Espelho do tempo e do olho

Cantei, disse aos dias:
do sangue ergui cidades
que geram ritmos
disse aos dias: estendi-o
como um ramo saudoso
que na seiva me leva ilumina a morte, a mortalha
cantei disse aos dias: 
este é o meu sangue
         (certa essência talvez de
         certa ciência
         se a declarasse diriam:
         adora ídolos)
cantei desjuntei – dos cílios que o teciam –
o sonho e juntei ao tempo
o olho.




Árvore do Oriente

Me fiz espelho
refleti tudo
mudei em teu fogo a cerimônia da água e da vegetação
mudei voz e apelo,

passei a te ver em dois
tu e esta  pérola que nada em meus olhos
eu e a água nos fizemos amantes
nasço em nome da água
nasce em mim a água
eu
e a água
nos replicamos.



O signo

Fundi fogo e neve
o fogo não me compreenderá o bosque e a neve
permanecerei obscuro e calmo
a habitar flores e pedras
a esconder-me
a perscrutar
a ver
a ondular
como a luz entre a magia e o signo.