terça-feira, 5 de novembro de 2013

Denise Stoklos



Denise Stoklos merece todos os prêmios deste mundinho! Santa Madre! Que espetáculo! Seu novo monólogo, Carta ao Pai, baseado em livro homônimo de Kafka, é de uma grandeza de deixar a gente estatelada no chão por muitas horas após ter visto a peça.

Eis um dos releases:




“CARTA AO PAI”, de Kafka


Montagem de “Carta ao Pai”(ou “Vamos Trocar Feromônios”) inserida no repertório permanente do “Teatro Essencial”, que completa 45 anos. Implícito o agradecimento ao Sesc SP, na pessoa admirável do professor Danilo Santos de Miranda, que tem me apoiado continuamente e a tantas outras companhias teatrais.
Sigo nesta montagem minha linha de trabalho na qual o ator é o fundamento da cena e sua contingência sociopolítica é o ponto de interpretação. Nesta “Carta ao Pai” entrego fragmentos do texto de Kafka.

Não pude deixar de atribuir ao filho espancado moralmente pelo pai deste texto clássico, como subtexto, o “povo brasileiro” e o pai o “estado” e mais aproximadamente ainda o filho a “classe teatral” e o pai as instituições que a destituem...


O teatro, que é “reflexão para a liberdade”, não faz girar o mundo de negócios, antes, é inconveniente até para o “mundo que gira”, que conta, acumula, mas pouco reflete. Que o resultado seja uma sincera letra de cancioneiro popular sertanejo autêntico. Um apontamento da dor psíquica imensa no qual nossas origens, o Pai/Caipira/Brasil vem “fazendo picadinho” de seus filhos em seus anseios de considerar-se corpo digno de existir. Um sistema que tende a esquecer caminhos que libertam.
Tendo por base o levantamento de uma memória de 45 anos de experiência, que isso seja como um alerta para que histórias não se percam. É sempre e cada vez mais hora de Kafka, não?

Denise Stoklos
agosto 2013




Temas universais (amor, paixões, impenetrabilidade dos eus, violências, biografias e suas incontáveis possibilidades de leituras, opressão, liberdade, grades, cercas, prisões, vigilâncias, desejos...)  tratados de maneira inteligente, sincera e, o que é melhor, bem-humorada.

Denise Stoklos aprimora a cada dia seu dizer através do corpo e gestual: movimentos e expressões que conseguem, para nosso proveito, fazer desfilar em bandeja de prata o que de melhor pode nos ser oferecido produtivamente para reflexões em todo âmbito de nossas vidinhas e picuinhas.

Seu teatro essencial é grandioso, de múltiplos desdobramentos e significados que se entrelaçam. Não é só aquele em que "o ator é o autor, diretor e coreógrafo de si mesmo". Ele é também o pão oferecido a nós – pobres mortais pecadores, de frequentes ingenuidades, inconsciências, ignorâncias, cegueiras e boas intenções inapropriadas ou ferinas – como recriação de um milagre bíblico em que encontramos multiplicado o alimento capaz de nos possibilitar luz, calor e esperança, além de boa dose de se-mancol, é claro.