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terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Aproveitando ainda os eflúvios do réveillon, quando sempre testemunhamos desejos, promessas, decisões, agradecimentos e pedidos ao sobrecarregado deus pai para o ano que se inaugura, faço o registro sonoro de duas maravilhas:
Led Zeppelin, em homenagem no prestigiado Kennedy Center, nos EUA (imagino que até o Tinhorão se curvaria com reverência ao se deparar com isto).
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=mf2O3OAQjng
E Paulinho da Viola, dos meus intérpretes favoritíssimos, cantando Novos Rumos (de Rochinha e Orlando Porto).
http://youtu.be/--ZtFVriASc
No mais, alguns versos visitando esse conceito que tanto nos oprime – a felicidade – como possível mote para uma próxima nota.
Por falar nisso. um feliz 2013 para todos!
Felicidade (Vera Lúcia de Oliveira)
como se essencial fosse sentar
um homem toma conta do quintal
fazendo cesta
cruzando fios
um gato preto lambe a solidão
o homem vê a solidão sendo lambida
e trança a felicidade
nos dedos ágeis
Biscuit (Paulo Henriques Britto)
Felicidade frágil,
que se equilibra mal
e mal (ainda que ágil)
no contrafactual
e no mais-que-imperfeito
do que ganha sentido
quando não tem mais jeito
e o prazo está vencido.
Então todo obstáculo
vira finalidade:
é o fim do espetáculo,
frágil felicidade.
Homem Feliz (Abel Silva)
Dizem que no Brasil
há um homem feliz...
(Maiakovski)
Nesta tarde, no Brasil
um homem se sente feliz!
não eufórico nem agitado
(na verdade nada de extraordinário aconteceu)
e ele examina o céu
de azul pintado. E este homem sou eu.
Na minha varanda, sob o Corcovado
há um pé de manacá, de pitanga e unha-de-gato
e até uma borboleta vira-folhas
comparece com sua soluçante e bem-vinda colaboração.
Não sei bem por que me sinto assim como aquele homem
brasileiro de Maiakovski
e é tão raro em letra de forma alguém se confessasr feliz
que eu deveria talvez fazer um exame de consciência...
Mas é que a vida está agora, digamos,
VIVA! Só. Sem alarde. Sem maiores transcendências.
Vivo eu, a borboleta, as plantas e a tarde...
Ocorre às vezes este viver pousado
na haste do tempo: ser,
feito um cão desprevenido ou um tigre saciado
só o faro, talvez, inda ligado
ao ritmo geral das coisas: a vida distraída.
Sei que isto é uma fresta
nas surpresas do vento
e enquanto olho o céu sozinho e lento
milhares se acotovelam nos porões
e afogados recebem
sob a neblina
a última notícia da luz.
Mas não quero pensar neles, não quero pensar,
só me sentir assim como me sinto: passando...
E a brisa
o tempo e a vida
me levando.
Felicidade (Antonio Cicero)
Felicidade é esse acaso
Que te fez o que és.
Nada queres dizer.
Nada deves a trabalho
Ou a dever.
Perverso
Brincas.
Criatura de um só dia
Absoluto
És festa
Serás luto.
És festa sonho carne frêmito.
Não mereces este prazer
Nem eu mereço teu amor:
Tudo entre nós é gratuito
E muito
E parte.
Cardumes de sol ao mar
Quase sem arte
Quero-te feliz.
O que é a felicidade?
lápide de tumba
num cemitério na margem da língua.
(Adonis)
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