sábado, 26 de maio de 2012

Gonçalo M. Tavares III


Gotas aforísticas de Gonçalo M. Tavares:



Homem parado não tem teorias.

Inventar é destruir documentos.

Ser exato destrói.

O problema da História é que não foi escrita por nenhum artista.

Nem sempre o obstáculo é um objeto alto. Por vezes é a pequenez da coisa que provoca distúrbios ao avanço.

Nenhum humano é tão rápido que não seja natureza.

Pousadas no vazio estão as mãos sem o medo.

Só as grandes amizades permitem a loucura.

Esta coisa que é sempre igual varia muito. Monótona surpresa.

Encontrar é perder aquilo que antes se tinha.

A natureza é demasiado grande para participar de ninharias; a tua família é um acontecimento regional, um pormenor minúsculo do planeta.

O herói pode mesmo ser analfabeto ou mudo.

O poema é uma substância que remete para as surpresas da física. Um verso avança como se fosse uma coisa com elétrons e desassossego. Tem núcleo, uma carga positiva e uma carga negativa.

A linguagem terá de ser o lugar do indivíduo, da incomunicação, do isolamento: a frase que me isola é a frase que me conhece, é a frase que me faz conhecer.

A ciência é lenta porque os fenômenos mentem muito.

A verdade é uma decisão egoísta.

Ao erro de Um (sem seguidores) chamamos de Arte.

A prova é uma questão de poder, não de veracidade.

O verdadeiro é uma falsificação do falso.

A tristeza é anticientífica.

Só quem é alegre arrisca.






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