sábado, 19 de fevereiro de 2011

F@míli@

Sou de uma família sensacional: amorosa, alegre, inteligente, solidária.
E não me caiu do céu. Foi um privilégio construído a muitas mãos entre irmãos (somos sete, fomos oito), nesta esquisitice fabulosa e trágica que se chama vida.


Somos cegos e desamparados a maior parte do tempo.
Necessitamos de luz que ilumine nossos passos, como a que iluminou os passos de Édipo em Colona.
A história do homem é a história da transgressão, da violação de limites, do ir além, das desmedidas.
A dor é pura desarmonia. Mas também é pena infligida sobre nós  por ultrapassarmos medidas e limites.
Assim nos diz a tragédia grega, de onde retiramos tanto nossos frutos quanto nossos venenos.
O movimento reflexo espontâneo, constante em nossa luta contra a loucura e a doença, o choque destrutivo e a morte, é o que chamamos liberdade.
A liberdade é não só poder transformador em situações de conflito, mas expressão da plenitude poética que permeia as relações humanas.
A liberdade é manifestação de proximidade e distanciamento, reconhecimento e respeito; pode ser revelação e cortesia.
Em nosso desamparo, pedimos socorro muitas vezes a quem não pode dar, pedimos compreensão a quem não fala a nossa língua, interpretamos fatos com parâmetros só aplicáveis em nossos próprios e inalcançáveis mundos pessoais e íntimos.


A família pode nos servir com um repertório de surpresas e múltiplas possibilidades de aconchego existencial.
A família pode ser o reduto do procurado equilíbrio, mesmo que instável, a que almejamos a todo instante.
A família é uma representação da verdade como aparição fugaz, como lampejo intuitivo da coreografia multiforme do nosso pulsar frenético, nervoso e descontrolado de manutenção da vida.


O Diablog nº7 faz uma reverência especial à família, ou pelo menos àquelas viáveis!





FAMÍLIA   (Carlos Drummond de Andrade, em Alguma Poesia)

Três meninos e duas meninas,
sendo uma ainda de colo.
A cozinheira preta, a copeira mulata,
o papagaio, o gato, o cachorro,
as galinhas gordas no palmo de horta
e a mulher que trata de tudo.

A espreguiçadeira, a cama, a gangorra,
o cigarro, o trabalho, a reza,
a goiabada na sobremesa de domingo,
o palito nos dentes contentes,
o gramofone rouco toda a noite
e a mulher que trata de tudo.

O agiota, o leiteiro, o turco,
o médico uma vez por mês,
o bilhete todas as semanas
branco! mas a esperança sempre verde.
A mulher que trata de tudo
e a felicidade.

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