SORTE
Entendes que desentendo a linguagem do mundo?
Entendes que subentendo de pouco um tudo?
O rumor do caos fluindo no descampado
insinua-se em frestas de lofts embrutecidos.
Não há pontes que se estendam do nada ao nada.
Nem há clareiras em desertos infinitos.
Em lombo de imensidão que se oferece fardo,
somos condenados a sede, fome, coceiras de mosquitos.
Entendes que não nos contenta, é prejuízo,
calarmo-nos, contermo-nos, submetermo-nos ao largo?
Sorte é a de sermos sempre ou vez por outra
a poesia simples do dividir o tacho
e, em silêncios, zaps, libras, o que for, diacho!,
servirmo-nos plenamente à mesa-idílio,
honrarmos almas com o vinho maturado
e largarmos a escopeta bem no fundo do estribilho.
(Vera Versiani)