quarta-feira, 13 de julho de 2016

Nave Mãe


Nave Mãe


I

mãe-Nave, mãe-Terra,
nesse novo nascer
de sol e de sonhos
de sopros e sons
volteios e vinhos
moldando vontades

receba meus olhos
cansados e lentos
perdidos nas curvas
de seu riso abalado
onde esconde segredos 
de refugiados

II

seus porões sufocantes
suas horas tristes
suas letras dispersas
seus poemas não feitos
seu comércio lícito
de inutilidades

seu canto indisposto
seu tédio maldito
suas pétalas murchas
suas cores máculas
no circuito de medo
que açoita o viver

sua sombra em meus ombros
com o peso da fome
seu farol apagado
sob meus pés de lama
e a gosma nojenta
de seu orgulho e vaidade

seus invólucros rotos
sua roça distante
das bocas famintas
seus terrores em cultos
seus gritos medonhos
sua indiferença

III

Libertemos a nave, ó Mãe,

quebremos a rude métrica
em qualquer canto da casca
do árido ao úmido chão
do verde gigante ao gelo
que ainda vicejam sonhos
e por certo o sol se põe

Libertemos os pássaros, ó Mãe,

suas vilas em vis destroços
seus muros, seus 1001 trapos
muletas, esparadrapos
 o cansaço da velha voz
a podre humilhação
do self desfigurado

Libertemos o bicho, ó Mãe,

e o lixo acumulado
em corações e regaços
cumprindo espaço no tempo

viremos tripas ao avesso
para revelar o pedaço
de bem e luz que mereço

(Vera Versiani)




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