CONTINUUM
por um breve
instante
estive em
tempo de
enlouquecer
mas durou
o pouco
que duram
certos detalhes
farpas
névoas
notas de cantigas
que flutuam
solitárias
e que
constituem
o pó
de secas
desmemórias
no instante
seguinte
sinto-me
íntima
de mais
mais uma
loucura
outro ermo
outra roda
outro rumo
outra roça...
BIROSCA
não apenas a balança Filizola
nem o rádio de pilha prateado
no balcão de cimento cor-de-rosa
recendendo a álcool e vozes de outros pátios
nem tampouco o mostruário vário
no varejo volúvel e indeciso
de fumo, brincos, drágeas, calendários
entre garrafas e caixotes reunidos
junto a vassouras piaçava
e dorsos de franguinho a quilo
certo olhar também exala
e reclama
um quê de esperança
um sorriso
HISTORIETA
10
–
Chapéu, a rapaziada tá falando que a vovó é a bola da vez. Ela tá entocada.
Apanha
uma saca e bota esse rango aí pra reforçá o almoço da coroa; e rapa fora sem
arengação senão o bicho vai pegá.
–
Calma, mano! Sou puro love, puro love! Ponta firme! Dá cá esse farnel que eu
vou
tirar
a maior chinfra, na maior responsa!
–
Acho bom fazê o levante da pista, que os lobo tão de ratoeira.
–
Qualé, mermão, tu tá na noia, é? Tá duvidando da juventude? Tenho cara de mané?
–
Que parada é essa? Se intera, cumpade. Não duvido que tu é o cara, mas pra saí
da toca tu tem de ir na manha, na maior limpeza, num dá pra encará os hômi como
quem
brinca de bandido e mocinho não.
– Tá
bom, na boa, quer me ensinar o desenrole? A parada num tá sinistra não. Em todo
caso, mete um ferro na saca. Se for preciso, eu sento o dedo neles. Tu fica
aqui na contenção. Qualquer música desafinada tu chama os frentes pra reforçá.
Ninguém
senta o prego nimim assim fácil não. Antes disso a rapêizi passa o rodo neles.
Ah,
meu Pai, obrigado por mais um dia nesta Tua terra maravilhosa!
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