Revi A Árvore da Vida,
de Terrence Malick.
Renovo o encantamento.
Fotografia artística de primeira grandeza, bem cuidada, um
show à parte, com o diretor de fotografia, Emmanuel Lubezki. Cada centímetro de cena trabalhado em prol de
um resultado fotográfico que não é a criação de imagens inusitadas de lugares
inexistentes ou dificilmente visitados, mas lugares comuns onde meus pés
tropeçam a cada instante, onde o homem transita em seu dia a dia desde sempre.
A cena das aves, incontáveis pontos negros em movimento num
urbano entardecer, é de uma beleza abençoada e penetrante. E trivial. Como
tantas outras referências do belo a que somos submetidos do início ao fim do
filme. Tudo de um apuro magistral, poético , perfeito. Lindo. Lindo.
O filme pode parecer triste a quem é pego de surpresa pela
densidade emocional e reflexiva, mas encanta com a enormidade de sua beleza.
Aquece e engrandece nosso íntimo com nutrientes espirituais. A música
“silenciosa”, calma e sutil é perfeita na composição de todo o quadro.
Há um incômodo, um desassossego familiar. Somos levados a um
passeio dentro de nossa própria alma.
O filme conta minha história. Sou eu o testemunho da dor e
do mistério do enfrentamento que é o viver. O roteiro é arrancado a fórceps do
meu peito. Não há a maciez ou o alívio de uma distância.
Os menores de cinquenta anos, os de cueiros, terão
certamente mais dificuldade em entender ou alcançar a profundidade dessa obra.
O mundo tratado é o de hoje, o de ontem ou o de amanhã.
Palpável, acessível, corriqueiro. E o
som, tão familiar quanto o que possivelmente ecoa nos canais de ressonância de
nossas artérias e conexões sinápticas.
As imagens são tocantes e arrebatadoras: pulsão de vida e
morte num contínuo de luzes, sombras e reflexos, que são fotografias de buscas,
medos e esperanças esculpidos em nossas desnorteadas lembranças.
O filme levanta questões profundas sobre a possibilidade de
coexistência de conceitos como Deus, bondade e justiça num mundo povoado de
tragédias, equívocos e maldades.
É um tratado magnífico sobre tudo o que nos concerne. Fala
sobre amor, sexualidade, infância, amadurecimento, violência, inexorabilidades,
segredos que nunca serão segredos, revelações, impotência e medo,
reconhecimento e humildade.
É um filme grandioso.
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