O Grupo cênico-musical Eco do Santa Marta vai se apresentar no Salão Poético da AABB no próximo mês.
Entre músicas e textos encenados, aí vão meus poemas:
sob o fundo do barraco
entre pedras, estacas e detritos
meu olhar se perde
onde não sou
nem tenho para onde
nos degraus sinuosos
de múltiplas fachadas
e reféns expostos
dispenso-me do gelo
como quem sabe
como quem nunca
o calor humano tem um quê de espelunca
TRÂNSITO LIVRE
para Itamar
haverá chance do porvir sem achincalhes?
retiraremos máscaras e antolhos?
quem desacionará a chave-mestra da engrenagem?
quem comandará o cessar-fogo?
a que sorte, remate ou desfecho
será lançado tal funesto enredo?
no asfalto e no morro – extravagante esteio –
só transitam livremente: risco e medo.
PINGENTE VI
filho filho filho
filho filho filho
filho filho filho
até perder totalmente o sentido filho filho filho filho
até soar como rouco desvario de hospício filho
filho
até rasgar as entranhas como lâmina verbal filho filho
até bodear como droga filho filho
filho filho filho
até desaparecer no infinito tão restrito do meu peito
filho filho filho
filho filho filho
filho filho filho
até comprometer veias artérias alvéolos articulações
tolo tolo filho falha folha filho filho filho filho filho
filho filho filho filho filho
filho filho filho
filho
filhos são pérolas tombadoras de almas
mães são estrupícios de benevolência duvidosa
pais, sejam o que forem, são de definição pretérita
a família, se ainda não foi, por pouco não está proscrita
ou sou eu quem falha na criação de um novo invento?
Noite Comum
o vento sibila
ladainha de medo
cada canto do morro
esconde um segredo
portas que fecham
boca que cala
o tráfico manda
a lei é a bala
a noite é comum
mas só na aparência
o silêncio que canta
não tem inocência
acorda manhã
despe teu lodo
descobre a promessa
por trás desse engodo
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