O homem baixo, manco, careca, barrigudo julgava-se perfeito. Ou quase. Tinha um defeito, na verdade. Mas este, guardava-o a sete chaves, a ponto de pouquíssimo sair de casa ou se relacionar, para não correr o risco de ser descoberto em sua única e indiscutível imperfeição.
O homem baixo, manco, careca, barrigudo, tanto se escondeu que, esquecendo-se de si, em seu íntimo se perdeu.
Não mais atinava com as complexas simplicidades de encontros e desencontros em que se constituíam os dias.
Não mais lhe percorriam os becos da memória as delícias não dissimuladas de um cuidar.
Habituara-se a ser o não-ser em que se criara nos labirintos escuros do drible e do embuste incrustados em sua armadura.
Morreu de falência múltipla de discernimento, o homem baixo, manco, careca, barrigudo... e perfeito.
Ou quase.
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