.
Hoje o Diablog traz no regaço, acalenta e encoraja uma querida amiga, que experimenta o que poderíamos chamar de "perturbação infeliz, tanto óbvia quanto não-essencial", que dá e passa.
Ato I
Quando vi
já tinha sido tragada pela avalanche
já tinha sido dobrada na onda gigante
o estrondo rouco e seco atordoando os ares
o terremoto fazendo ruir as bases
com a bala bem perdida me atingindo em cheio
ousei um último suspiro, impotente
Ato II
como num sonho louco beirando o improvável
o céu azul e límpido resfolegou em minha pegada
o sol, com suas vestes ondulantes de amornado
roçou meu desejar em novos arrepios
de cheiros vivos, densos e pulsantes
sem recender àqueles cinzas desbotados
dos jardins do Louco e do Idiota
de distantes paragens de um outrora
que nublou-se pedra e gelo no passado
(V.V.)
Ao levantar os olhos do livro, das linhas próximas, e ao deixar de vê-las
para contemplar a noite perfeita:
Oh! os sentimentos pressionados se dispersam quais estrelas,
como a fita de um maço
de flores desfeita.
Juventude suave, e severa, árdua indecisão,
ardores e arqueamentos delicados –
Por toda a parte o desejo de corresponder e em parte alguma a ambição;
Terra suficiente, mundo demasiado.
(Rainer Maria Rilke, em tradução de Marco Lucchesi)
Cada lugarzinho tem
um canto escondido.
Um ao meio-dia, um às três da tarde.
Cada passarinho tem
um canto exclusivo.
Às vezes passa um carro, mas só às vezes.
E as ondas do mar não param de passar.
Quem tem medo de cobra
põe sapato.
Quem não tem a mãe
obriga a pôr.
O mormaço apazigua a cor.
Às vezes chove, mas só às vezes.
Estende a esteira para ver as estrelas.
Sobre a areia deita-se também.
Tudo é cinema.
Ninguém precisa de problema.
(Arnaldo Antunes)
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário