A terceira edição do Farofarra, evento de porte criado pela minha família, para reunir amigos de toda época e idade, num concurso original em que procura-se eleger a farofa dos deuses, aquela que deixa marcas, se não iguais, pelo menos semelhantes às das madeleines dos corredores obscuros de nossa memória, tão bem descritas no Em Busca do Tempo Perdido, de Proust, finalmente aconteceu.
Não sei se Proust salivaria ao pousar o olhar sobre uma mistura farinácea, com ovos, gordura trans e glúten, recém-saída da cozinha discutivelmente salutar do restaurante da esquina, mas desconfio que ele não vacilaria em vir a pé de Nova Iguaçu até o Catete, num Sete de Setembro ameno de pré-verão, para degustar os vinte e cinco espécimes inscritos no aloprado e esdrúxulo concurso, mas de indiscutível importância, e votar nas modalidades sabor, título e originalidade a que as farofas concorrentes se submetem.
Não vou discorrer sobre o evento na forma informativa padrão. Aliás, existe o Farofarra Mundi no Facebook para quem quiser se inteirar do assunto e verificar os registros que serão transformados brevemente em livro. Não posso, entretanto, deixar de pontuar um dos toques elegantes, apetitosos e originais da festa recente: a farofa de chocolate enfeitada com Confetes coloridos e pedaços de bombons Sonho de Valsa (Hummmmmm... Demais!), cujo nome era "Só Quero Chocolate". Ganhou em originalidade. Merecia qualquer dos prêmios.
Outro ponto altíssimo foi a "Farofa da Madrasta da Branca de Neve". Imbatível no sabor. Ninguém percebeu, é claro, uma zona. A travessa ainda veio com uma linda e apetitosa maçã, salvadora da pátria para a minha netinha, que a degustou com prazer enquanto desfilava quase anônima no meio da multidão ocupada em compreender, discutir e solucionar a vergonhosa marmelada que impunha historicamente os Versiani nos primeiros lugares da competição.
O que me cativa nesse encontro anual é o clima anárquico-democrático, bem-humorado, de esculhambação, digamos, refinada, de confraternização, de empenho quase acadêmico numa construção coletiva do que poderíamos chamar de "absurdo essencial", de alegria nem um pouco contida e de exercício do mais benéfico e salutar convívio das gentes de histórias e afinidades que se cruzam nesse tropeção que é a vida forrada com um amparo de cultura, arte e amor que nunca deixa que nos estabaquemos de mau jeito.
Já tenho até um título para meu prato numa próxima edição do Farofarra: "Que Merda é Essa?!", com o sub-título: "Uma reflexão sobre o afeto."
Parabéns, farofeiros e farofeiras!!
Como sempre Vc. consegue impor uma análise peculiar a um fato corriqueiro, e transformar nossa Farofarra em um evento bem mais importante do que é.
ResponderExcluirFico feliz em saber que nossa Farofarra consegue fazer essa confraternização entre os diversos amigos e, nesses breves momentos em que ela dura, alegrar os corações e mentes daqueles que ali estão.
Como Vc. tem sido uma concorrente constante das nossas sucessivas edições e foi uma vencedora contumaz da "vergonhosa marmelada" dos Versiani (!!!) nos primeiros anos da Farofarra (inclusive com uma dúplice premiação - inédita), parece-me legitimada a opinar fundamentamente nesse sentido (ha ha ha).
E se os Versiani ganham alguma coisa, os não-Versiani vêm levantando os prêmios de sabor nos dois últimos anos. Mas será que são mesmo não-Versiani? Ou existirá algum não-Versiani nessa festa?
Acho que isso merece outro post seu, Vera....
Bjos.
Chap