Fiquei impressionada com o filme Árvore da Vida, de Terrence Malick, agradecida aos céus, como diziam na infância de minha memória tão mineira, pela existência da obra e pela chance de vê-la, extasiada com as cenas e imagens que, continuamente, nutriam minha mente com o que julgo o verdadeiro alimento que merecemos na face desta terrinha cheia de pobrezas de todo tipo.
Há de um tudo ali! A começar pela trilha sonora forte, elegante, funcional, belíssima, com obras conhecidas de autores eruditos, como Brahms e Mahler, e a criação sempre linda e competente de Alexandre Desplat (o mesmo que fez a trilha para O Discurso do Rei).
Dialogando com Deus, evocando Jó, questionando conceitos, crenças, ensinamentos, de forma investigativa e inteligente, sin perder la ternura, com espaço para um passeio desde a criação do universo, dos primeiros seres multicelulares na Terra, com uma olhada na vida não muito fácil de espécies como a dos dinossauros , até dias bem mais recentes vividos por uma família de classe média americana lá pelos idos de 1950, o filme nos instiga a todo momento àquele mergulho reflexivo em que tanto nos perdemos como nos encontramos em boa parte de nossa existência.
Se me fosse dado escolher o que enviar na nave que cruzou os céus em busca de comunicação com extraterrestres, eu escolheria sem dúvida este Árvore da Vida, e não aquela Coisinha do Pai tão ridícula, medíocre e desprestigiosa, que, se nos serviu de carta de apresentação aos seres desconhecidos do cosmos, deve ter servido também como excelente justificativa para que se mantivessem à distância.
O cineasta Karim Aïnouz, comentando sobre a obra de Terrence Malick num artigo de jornal, insistiu no termo "depuração". Perfeito. A precisão com que Malick cuida e alinhava sua obra é impressionante. Sentimo-nos envoltos, do início ao fim, numa aura de mistério e encantamento, de enlevo, de sensação quase incômoda, mas dentro de nossas necessidades absolutas, de encontro e diálogo produtivos com aquele nosso velho eu, vez por outra tão estéril e fútil.
A modernidade do filme é incontestável. Mas uma modernidade com o pé na história do homem e suas questões fundamentais, uma modernidade madura, culta, experiente, carregada de referências e escolhas que fUncionam com "u". Um luxo.
Cito Cacá Diegues listando algumas das características modernosas do filme: "estrutura não linear, narração fragmentária, steadycam em permanente movimento, jump cuts para todo gosto, diálogos em suspensão e ditos em voz baixa, fotografia monocromática etc.". Simples detalhes, para um filme atemporal, magnífico.
E fecho com as palavras de Karim Aïnouz:
"Na sucinta obra de Malick tudo é preciso e tudo é misterioso. Penso no meu dia e paro de desejar que ele tenha 48 horas. Fico querendo cancelar tudo que tenho que fazer hoje e passar o dia revendo seus filmes , achando que o mundo poderia se transformar nas inesquecíveis aventuras de Terrence Malick – e nada mais".
Ah, e como são lindos Brad Pitt e Sean Penn!
Arte, poesia, cinema, literatura, música, cultura popular: reflexões, considerações, aforismos, poemas...
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Frases desaforísticas
"Há uma riqueza do não terminado, do não definitivo. Definir é dizer a última palavra sobre um assunto, e acho que isso é muito perigoso". (Gonçalo M. Tavares)
"O que não me agradaria era uma ficção que tivesse uma única utilidade, como uma cafeteira". (Gonçalo M. Tavares)
"Todos os caminhos levam à morte. Perca-se". (Jorge Luiz Borges)
"O insuportável na vida é que todo mundo tem razão". (de um personagem em "A Regra do Jogo", filme de Jean Renoir)
"Não sou sequestrável, mas dá para pagar um bom dentista". (Ney Latorraca)
"Senti-me só; menos quando meus amores se foram que quando minhas qualidades se ampliaram". (V.V.)
"Wim Wenders e aprendenders!". (essa eu não sei de quem é)
"Antes ser condenado a beber cicuta que a beber sukita". (variante de frase de Bruno Maron)
"Só começamos a estar vivos quando deixa de ser fácil". (Gonçalo M. Tavares)
"Esquecer é uma coisa que se faz". (Gonçalo M. Tavares)
"Fotografar é emitir uma opinião". (V.V.)
"É bem verdade que nem a juventude sabe o que pode, nem a velhice pode o que sabe". (J. Saramago)
"Conhecer a beleza de uma coisa significa conhecê-la necessariamente de modo errado". (Nietzsche)
"Se eu amo o meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar o meu semelhante?". (Mário Quintana)
"Nenhum som teme o silêncio que o extingue". (John Cage)
"Universal é o particular de alguém imposto a todo mundo". (Tinhorão)
"Deus é uma criação monstruosa. Eu tenho medo de Deus porque ele é total demais para o meu tamanho". (Clarice Lispector)
"A gente sabe mais, de um homem, é o que ele esconde". (Guimarães Rosa)
"O que não me agradaria era uma ficção que tivesse uma única utilidade, como uma cafeteira". (Gonçalo M. Tavares)
"Todos os caminhos levam à morte. Perca-se". (Jorge Luiz Borges)
"O insuportável na vida é que todo mundo tem razão". (de um personagem em "A Regra do Jogo", filme de Jean Renoir)
"Não sou sequestrável, mas dá para pagar um bom dentista". (Ney Latorraca)
"Senti-me só; menos quando meus amores se foram que quando minhas qualidades se ampliaram". (V.V.)
"Wim Wenders e aprendenders!". (essa eu não sei de quem é)
"Antes ser condenado a beber cicuta que a beber sukita". (variante de frase de Bruno Maron)
"Só começamos a estar vivos quando deixa de ser fácil". (Gonçalo M. Tavares)
"Esquecer é uma coisa que se faz". (Gonçalo M. Tavares)
"Fotografar é emitir uma opinião". (V.V.)
"É bem verdade que nem a juventude sabe o que pode, nem a velhice pode o que sabe". (J. Saramago)
"Conhecer a beleza de uma coisa significa conhecê-la necessariamente de modo errado". (Nietzsche)
"Se eu amo o meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar o meu semelhante?". (Mário Quintana)
"Nenhum som teme o silêncio que o extingue". (John Cage)
"Universal é o particular de alguém imposto a todo mundo". (Tinhorão)
"Deus é uma criação monstruosa. Eu tenho medo de Deus porque ele é total demais para o meu tamanho". (Clarice Lispector)
"A gente sabe mais, de um homem, é o que ele esconde". (Guimarães Rosa)
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Íntimo Degredo
Íntimo Degredo (Vera Versiani)
esse meu jeito torto de olhar
vem do costume que não larga
de me defender, de desconfiar
sou curta e grossa no dizer
mas nunca desaprendi de todo
do jeito macio de gentil querer
em quantas emboscadas me meti?
em que guerras, em que pântanos?
em que breu fiz brotar o lume?
em que peito fiz cravar a dor?
antigos sinos ainda soam lentos
neste piscar de olhos costumeiro
e aquecem sedas pérolas, fazem assento
no ouro verde deste meu terreno
tantos tiros escutei noites adentro
tanto tive que inventar para aliviar a fome
quanto choro disfarçado suportei
só para criar com orgulho o meu nome
minha idade já provou sombras de cajueiros
incontáveis histórias de mãe-preta, escuros medos
minha honra já pede o cultivar de rosas
dos jardins suaves do mais íntimo degredo
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